No quadro “Defensorar, uma escolha para a vida” desta semana, a ADEP-MS (Associação das Defensoras e Defensores Públicos de Mato Grosso do Sul) convidou o Defensor Público Daniel Provenzano Pereira para contar um pouco da sua trajetória profissional, além de saber dele sua opinião sobre a Defensoria Pública, a Associação e o que o motiva a seguir na carreira. Vamos conferir?

ADEP-MS – Dr. Daniel, conta para nós sobre o seu processo de entrada na Defensoria Pública. Era algo que sempre almejou como profissão?

Resposta: Na verdade não almejava inicialmente a Defensoria Pública. Antes do ingressar na carreira, fui assessor de Desembargador no TJMS durante sete anos e, antes disso, na época de faculdade, fiz estágio com alguns juízes, de modo que minha intenção inicial era seguir os caminhos da Magistratura. Na caminhada de concursos, por meio de um conselho de um Juiz amigo meu, acabei optando pela Defensoria e encontrei meu destino.

ADEP-MS – Há quanto tempo é Defensor Público e qual sua área de atuação? É a área que gosta de atuar ou aprendeu a gostar com o tempo? Já chegou a ser designado para outras comarcas?

Resposta: Sou Defensor Público há quase oito anos e atualmente estou lotado na 15ª Defensoria Pública de Família e Sucessões da comarca de Campo Grande. A área de família é a que todos os Defensores atuam ou atuaram em algum dia, por ser a de maior volume e ser inerente às comarcas de instância inicial. Sempre gostei de atuar na família embora tenha sido designado, no início da carreira para a comarca de Corumbá, ocasião em que atuei na 3ª Defensoria Pública Criminal com atribuição nas varas criminais e do júri.

ADEP-MS – Qual o misto de sensações/sentimentos ao lidar com o atendimento aos hipossuficientes?

Resposta: Sempre é um mix de sentimentos, pois não há um dia em que o volume de atendimento seja pequeno. Assim, sempre atendemos uma gama muito grande e diferenciada de pessoas, com diversos problemas e anseios, uns mais graves do que os outros, mas sempre com ânimo de tentar fazer o melhor e ajudar nosso público.

ADEP-MS – Sua atuação profissional muda a forma de ver o mundo?

Resposta: Completamente. Ao ingressar na Defensoria pude ver de perto algo que somente tinha noção por matérias e reportagens, pois o trabalho que anteriormente exercia me obrigava a ficar dentro de uma sala sem praticamente atender partes. Na Defensoria, temos o contato direto com a parcela da população mais necessitada, sendo um imenso choque de realidade para as pessoas que, assim como eu, não tiveram oportunidade de enfrentar de perto a realidade dos hipossuficientes.

ADEP-MS – Durante todos esses anos na Defensoria Pública, o que mais te chama atenção no órgão?

Resposta: Infelizmente o crescente volume de trabalho, o que demonstra a piora do cenário econômico/financeiro do país. Em épocas de crise, a procura pelo serviço da Defensoria aumenta consideravelmente e, com a pandemia, a procura disparou, haja vista o cenário arrasador de desemprego e ausência de oportunidade para os cidadãos.

ADEP-MS – O que o motiva a continuar na profissão de Defensor Público?

Respostas: Ser Defensor Público exige coragem e determinação, qualidades forjadas nos Defensores já no início da carreira. A motivação para continuar a exercer a profissão é a crença de que dias melhores virão e que o nosso trabalho é fundamental para essa melhoria que pretendemos para o nosso público. Dessa forma, o abandono da função não é uma opção.

ADEP-MS – Qual a lembrança que mais te marcou como Defensor Público? Compartilha com a gente um pedacinho de algum fato que lhe aconteceu e nunca esqueceu.

Resposta: Lembranças marcantes são inúmeras, e as que mais me marcaram aconteceram no plenário do júri, em casos em que a absolvição era praticamente impossível e acabou acontecendo. Em um desses casos a ré era uma mulher que sofria violência doméstica, isso antes do ano 2000, quando sequer tínhamos delegacias especializadas em violência doméstica. Em uma das brigas do casal, que eram pescadores, a mulher, ao se defender das agressões físicas, acabou por matar o ex-companheiro e, em desespero, fugiu com a filha pequena para o pantanal, e lá permaneceu por 16 anos. Ao retornar para Corumbá foi presa e levada a julgamento. Depois desse tempo todo, a assistida já tinha se tornado avó e constituído nova família. O julgamento foi muito conturbado e, por uma margem mínima, ela foi absolvida. Foi extremamente emocionante.

ADEP-MS – Como o senhor se define? (suas características fortes)

Resposta: Não me considero uma pessoa diferenciada ou com características marcantes. Tento dar meu melhor a cada dia e me baseio em exemplos de personalidades que tiveram sucesso em suas áreas a base de muito trabalho e dedicação.

ADEP-MS – A profissão, nesses últimos tempos, tem passado por diversos ataques políticos, a exemplo a PEC 32 e o extrateto. Essas situações influenciam sua vontade de permanecer na carreira?

Respostas: Desde o ingresso na carreira vejo que ela reiteradamente sofre ataques. Atualmente o serviço público em geral tem sido objeto de ataques, mas com a pandemia já notamos uma mudança em alguns setores. A vontade de permanecer na carreia continua a mesma, mas a remuneração deveria ser corrigida. Já vemos em muitas outras carreiras a fuga em massa pela perda salarial ao longo dos anos.

ADEP-MS – O senhor é associado da ADEP-MS há quanto tempo? Sente que a instituição tem dado o seu melhor para atender as Defensoras e Defensores públicos?

Resposta: Sou associado desde o ingresso na carreira e sou testemunha ocular que a atual administração, principalmente na pessoa da Presidenta Linda Maria, minha vizinha de sala na unidade Belmar, tem se desdobrado para dar o melhor em prol dos associados.